Não é exagero dizer que o Brasil encontra-se em estado de alerta. Os problemas relacionados aos diferentes tipos de resíduos, sobretudo a gestão de resíduos perigosos, ainda não foram totalmente sanados e, por consequência, aumentam-se cada vez mais os riscos ambientais.

Isso porque, a gestão de resíduos perigosos exige um tratamento específico devido à sua composição de substâncias químicas e metais pesados. Na prática, esses materiais permanecem ativos na natureza por centenas de anos, prejudicando o meio ambiente.

Conforme os dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) em 2020, a composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos (percentual de cada componente de uma amostra de lixo), revelou que 1,4% foram resíduos perigosos descartados incorretamente como RSU.

Ou seja, os resíduos perigosos foram misturados com matéria orgânica, plástico, papelão e rejeitos.

Acompanhe a leitura e saiba mais sobre a temática de resíduos perigosos, considerado por ambientalistas uma grave ameaça.

Quais as características dos resíduos considerados perigosos?

A classificação dos resíduos e suas diretrizes baseadas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e na regulamentação ABNT NBR 10.004 exigem um tratamento diferenciado para os resíduos perigosos.

Isso porque, esses materiais são compostos por substâncias que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente quando descartados sem os devidos cuidados.

Em outras palavras, os resíduos perigosos apresentam características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Saiba mais qual a diferença entre eles.

Inflamabilidade

São resíduos que apresentam alto poder de combustão e que podem provocar incêndios. Por exemplo: solventes e tintas.

Corrosividade

São resíduos altamente ácidos que podem corroer organismos vivos. Por exemplo: pilhas e chumbos.

Reatividade

São resíduos com capacidade de reação rápida e forte para outros elementos, gerando calor e energia. Por exemplo: lodo industrial e carvão usado em efluentes.

Patogenicidade

São resíduos que possuem traços biológicos em sua composição, podendo resultar no surgimento de doenças. Por exemplo: material hospitalar.

Toxicidade

São resíduos altamente tóxicos que podem provocar danos em organismos vivos. Por exemplo: lâmpadas com vapor de mercúrio e óleos lubrificantes.

Como descartar os resíduos perigosos?

O primeiro passo para reverter e evitar problemas de descarte incorreto e má gestão dos resíduos perigosos é na identificação e categorização desses materiais.

Os resíduos perigosos são classificados conforme as normas técnicas, origens e potenciais riscos ao meio ambiente, sendo classe I, classe II não inertes (possivelmente contaminante) e classe II inertes (não contaminante)

Confira quais são que exigem um gerenciamento adequado:

  • Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens;
  • Pilhas e baterias;
  • Pneus;
  • Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
  • Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
  • Embalagens e lodos de tinta tinta provenientes da pintura industrial.
  • Produtos eletroeletrônicos e seus componentes;
  • Material de serviços de saúde (biológicos,químicos, radioativos, perfurocortantes ou escarificantes).

Em razão da quantidade de resíduos classificados como perigosos, os problemas de descarte se alastram devido à falta de coleta seletiva e políticas adequadas de gestão, grande produção de lixo e, claro, falta de informação.

Portanto, é preciso adotar medidas de incentivo e instrução à população, bem como a correta punição para aqueles que infringirem a lei em todo processo de gestão e ciclo de vida dos materiais.

A logística reversa

A logística reversa é um dos processos da gestão de resíduos perigosos que viabiliza a coleta, reaproveitamento e destinação final ambientalmente adequada dos materiais.

Conforme determina a obrigatoriedade da PNRS, a responsabilidade por estruturar e implementar o sistema de logística reversa deve ser cumprida por fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes.

O objetivo é evitar danos causados pelos resíduos perigosos após o fim do seu ciclo de vida. Dessa forma, a logística reversa torna-se um instrumento de gestão para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS).

Qual o impacto da logística reversa no cenário atual?

Com a vigência da PNRS, a logística reversa é o que há de mais moderno e exigente na gestão dos resíduos perigosos. 

Com a implementação desse modelo de gerenciamento, os números da gestão de resíduos perigosos seguem melhorando gradativamente no país.

O Instituto Jogue Limpo, aponta que a destinação adequada de embalagens plásticas de óleo lubrificante aumentou quase quatro vezes na última década. Totalizando 4.815 toneladas recebidas e 4.534 toneladas recicladas, segundo o relatório da Abrelpe 2021.

Do mesmo modo, a Reciclanip coletou e destinou corretamente cerca de 5,6 milhões de toneladas de pneumáticos inservíveis nos últimos 21 anos. Em outras palavras, o volume equivale a 1,1 bilhão de pneus de carros de passeios.

E por fim, a Green Eletron, gestora de resíduos eletrônicos no país, revela que em 2020 mais de 170 mil kg de resíduos eletroeletrônicos foram coletados e destinados de forma ambientalmente correta no país.

Como facilitar a gestão dos resíduos perigosos?

A correta gestão de resíduos perigosos visa mitigar os impactos ambientais, bem como, os danos à saúde humana. 

Por esse motivo, as normas técnicas e todo processo do ciclo produtivo dos resíduos perigosos indicam quatro práticas ambientalmente adequadas. Confira a seguir cada uma delas.

Coleta e classificação dos resíduos

Como falamos anteriormente, a primeira etapa é coletar e classificar os resíduos conforme a PGRS e a norma técnica NBR. 

Esse processo é fundamental devido às características, origem e potenciais riscos de cada material coletado e classificado. Essa primeira etapa impacta diretamente na destinação final específica e adequada dos resíduos.

Segregação 

A segregação dos resíduos está voltada à implantação da coleta seletiva, acondicionamento, armazenamento temporário, tratamento e destinação final. Portanto, deve considerar as características e reações específicas de cada resíduo.

Por esse motivo, a segregação é crucial para evitar a contaminação de outros materiais. Exemplo disso são gases tóxicos que alteram a qualidade ambiental local quando se misturam com outros tipos de resíduos.

Transporte

Após o processo de segregação, empresas especializadas e licenciadas são as responsáveis pelo transporte e destinação correta dos resíduos perigosos. 

Nessa fase, as questões de logística e regularização são primordiais, pois visam assegurar a segurança em todo processo de operação

Entre os procedimentos específicos estão a adequação, certificação e identificação dos volumes das embalagens dos resíduos.

Destinação final

Tendo em vista a origem, classificação e segregação dos materiais que englobam os resíduos perigosos, o processo de descarte é feito de acordo com a característica do resíduo.

Por exemplo: materiais recicláveis como os eletroeletrônicos são armazenados temporariamente e então, seguem para a destinação de logística reversa

Entretanto, aos demais resíduos, como óleos e graxas, a incineração é a melhor opção e deve ser realizada por empresas especializadas

Convenção de Basileia 

A Convenção de Basileia é um tratado internacional ambiental que regula o controle de movimentos transfronteiriços (travessia de fronteiras) de resíduos perigosos e seu depósito

Firmado na Suíça em 1989, o Brasil e outros 100 países ratificaram as emendas da convenção para coibir o tráfico internacional ilegal de resíduos e promover o manejo correto dos resíduos perigosos.

Dessa forma, o trânsito de resíduos perigosos deve ter o consentimento dos países para a importação e exportação dos materiais, a fim de evitar a destinação incorreta em países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

Em muitos casos, os países não sabem do transporte dos resíduos em seus territórios. Ou quando sabem, não possuem condições adequadas de gestão, como armazenamento, tratamento e destinação final – contaminando não só a população, mas também rios, solo e atmosfera.

Além dos inúmeros danos ambientais, a diferença do valor da tonelada dos resíduos perigosos em países industrializados já chegou a custar de US$2.000 enquanto, nos países subdesenvolvidos o valor pode variar de US$2,50 a US$50.

A regulamentação de leis, normas e convenções são instrumentos que promovem o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos perigosos.

Conclusão

Sabemos que o lixo é um problema ambiental mundial e adotar a correta gestão dos resíduos perigosos é o primeiro passo para o futuro do planeta. 

Mas você sabia que a tecnologia tem sido uma grande aliada nesse processo? Acompanhe o nosso blog e saiba mais sobre o gerenciamento de resíduos com o uso de softwares inteligentes. Boa leitura!